Em palestra no IDOR, Eduardo Deschamps, do Conselho Nacional de Educação, discute os desafios e possíveis soluções para este importante problema brasileiro.
O que o Brasil precisa para tirar sua educação do século 19 e levar, sem escalas, ao século 21? Esta foi a reflexão proposta por Eduardo Deschamps, que recentemente deixou o cargo de diretor do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão do Ministério da Educação cujo objetivo é assegurar a participação da sociedade na busca da educação nacional de qualidade. Em conferência no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) no Rio de Janeiro no dia 30 de novembro, Deschamps falou sobre os principais desafios brasileiros na educação básica. A palestra foi a primeira da série Ciência & Educação: Conexões, promovida pelo IDOR e pela Rede Nacional de Ciência para a Educação (Rede CpE).
“Ainda temos, no Brasil, uma escola do século 19”, começou Deschamps. A organização da sala de aula com foco no professor como único transmissor de conteúdo serviu a um propósito claro no passado – o de tornar a educação disponível a uma grande parte da população –, mas não atende as necessidades da sociedade contemporânea. Em um mundo onde a informação circula de forma rápida e ampla, em especial por meio da internet e outras tecnologias da informação, a autoridade do professor como detentor de conhecimento e o próprio papel da escola como único local de aprendizagem precisam ser revistos.
“As diretrizes nacionais do ensino médio aprovadas recentemente pelo CNE agora reconhecem que o ambiente de aprendizagem do jovem não é apenas a escola, mas qualquer lugar, e essa é uma premissa importante”, defendeu o palestrante. “É óbvio que o ambiente escolar continua sendo um ambiente de relacionamento, um ambiente importante de referência para o estudante, mas a aprendizagem pode se dar em qualquer espaço do mundo e da sociedade”.
Segundo Deschamps, criar a educação para o século 21 requer uma transformação radical de todo o sistema educacional, que envolve muito mais do que alunos, professores e escolas. “Não é uma questão apenas de identificar alguns pontos prioritários (formação de professores, currículo etc.) e sair trabalhando com eles. É preciso olhar o problema de maneira sistêmica para poder avançar”, defendeu.
Precisamos de uma revolução
O primeiro aspecto a ser trabalhado, disse o conferencista, é colocar o aluno no centro do processo. Em seguida, entram a importância do professor, das práticas pedagógicas eficazes, da gestão escolar eficiente e até da participação da família e do compromisso da sociedade como um todo – incluindo, mas não se restringindo à classe política – com a educação. “Priorizar a educação não é apenas dar mais dinheiro para a educação. É colocar o tema no centro de um verdadeiro processo de transformação para o desenvolvimento econômico e social de um país”, argumentou.
Deschamps mencionou alguns avanços importantes que o Brasil conseguiu na área de educação nas últimas décadas. Por exemplo, em 2017, 96% das crianças entre 4 e 17 anos tiveram acesso à escola – em 1970, eram apenas 48%. Além disso, de 2000 a 2015, houve uma melhora significativa no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em relação aos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º anos). O segundo segmento do ensino fundamental e o ensino médio também apresentaram melhoras, embora bem abaixo do desejável.
Por outro lado, o palestrante demonstrou preocupação com a qualidade da formação oferecida nas escolas brasileiras. Ao final do ensino médio, apenas 27,5% dos estudantes têm aprendizagem adequada em língua portuguesa e 7,3%, em matemática. “Com esse panorama, como o Brasil vai conseguir produzir ciência de qualidade em larga escala? Precisamos de uma revolução”, disse.
Em sua avaliação, há dois tipos de desafios para melhorar a educação, o técnico e o político. O primeiro tem relação com a aplicação do conhecimento gerado sobre o processo educacional nas diferentes esferas de gestão da educação. “Ainda se faz gestão da educação por achismo, e não por evidência científica”, criticou. Já o desafio político inclui garantir a manutenção de programas e políticas públicas de sucesso, mesmo diante das trocas de governo, e enfrentar a resistência que pode haver a mudanças.
A proposta de Deschamps para a educação básica compreende três grandes eixos onde é possível atuar. O primeiro está dentro das escolas: são questões relacionadas ao acesso e à permanência dos alunos, incluindo gestão, infraestrutura, recursos pedagógicos etc. No segundo eixo encontram-se os fatores que vão viabilizar o sistema educacional de uma forma mais abrangente, incluindo a gestão das redes de ensino, os parâmetros nacionais de qualidade, o financiamento, a avaliação e o monitoramento dos processos. Por fim, o terceiro eixo compreende fatores que estão fora da escola, como a participação das famílias e as políticas intersetoriais para a infância e a juventude. “Parte relevante do desempenho escolar dos estudantes pode ser explicada por fatores que não estão diretamente relacionados a? escola”, destacou. “Para resolver a educação, precisamos de saúde, assistência social”.
O especialista comentou diversos outros temas relacionados ao sistema educacional brasileiro que precisam de revisão: como atrair e formar professores, qual a melhor organização da dinâmica de sala de aula, a possibilidade de um ensino médio em período integral, como direcionar os investimentos de forma a promover a equidade na educação, a diversificação curricular, a infraestrutura fundamental para as escolas (incluindo acesso a tecnologias e internet)… Ao longo da palestra, ele destacou que é possível, sim, obter avanços significativos, apesar do pouco investimento. “O que a gente faz é aplicar ciência”, ressaltou, em consonância com os propósitos da Rede CpE, de cujo conselho administrativo Deschamps é membro.
Assista ao vídeo com a palestra de Deschamps.
Baixe o material utilizado pelo palestrante em sua apresentação.
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