Evento do IDOR em São Paulo reúne especialistas para debater os principais desafios da oncologia no país.
Enfrentar uma doença complexa, em um país diverso e com poucos recursos: essa é uma maneira de descrever, em poucas palavras, o enorme desafio que é o combate ao câncer no Brasil. As particularidades do sistema de saúde brasileiro, os caminhos para a incorporação tecnológica e a importância da informação na oncologia foram alguns dos aspectos discutidos no evento Câncer: Soluções Made in Brasil, realizado em 30 de novembro pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e pela Oncologia D’Or, com apoio da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da AstraZeneca. Durante uma manhã de bate-papo em São Paulo, especialistas apontaram problemas que precisam ser considerados pelo governo e pelas instituições de pesquisa, ensino, inovação e atendimento em saúde.
“Nós não temos ainda soluções made in Brazil para o câncer, mas, para encontrar soluções, precisamos reconhecer os problemas”, afirmou o oncologista Sergio Simon, presidente da SBOC e um dos coordenadores do evento. A primeira discussão da manhã girou em torno da incorporação de novas tecnologias em saúde, o que esbarra na falta de recursos para pagar por elas. Apesar de o Brasil investir em torno de 10% do PIB na saúde, em um momento de crise econômica, essa fatia não é suficiente se não for gerida de maneira adequada. “A questão do aumento da eficiência do sistema de saúde é crítica”, comentou Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
“Quando se tem pouco dinheiro, o importante é usar bem os recursos que se tem”, concordou Nelson Teich, fundador e ex-diretor do Grupo COI e do Instituto COI de Educação e Pesquisa. “Mas, mesmo com pouco dinheiro, se há eficiência, se entrega muito à sociedade”. Ele sugeriu aos participantes uma reflexão sobre as prioridades de alocação de recursos, trabalhando a qualidade e a equidade no atendimento, bem como a negociação transparente com as indústrias farmacêuticas.
Em apresentação sobre o tratamento do câncer no âmbito da saúde privada, Rogério Scarabel, diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar, enfatizou que há um desafio prático: oferecer aos usuários de planos de saúde – 47.34 milhões de beneficiários, em setembro de 2018 – o acesso ao tratamento do câncer, de forma sustentável. “As pessoas que pagam querem acesso. E hoje não temos condições de oferecer acesso a todos”, alertou. Uma das soluções sugeridas pelo especialista foi o investimento em medidas de prevenção e detecção precoce da doença.
No setor público, um dos grandes desafios é a incorporação de novos medicamentos e tratamentos oncológicos ao dia a dia dos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o coordenador de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Sandro Martins, não há previsão orçamentária para incorporação de novas tecnologias ou procedimentos no SUS, o que dificulta sua disponibilização à sociedade. Ele também manifestou preocupação com a ausência de limiares para decisões baseadas em custo-efetividade e falta de ou falha na comunicação com a sociedade sobre o processo decisório.
Pesquisa e inovação como caminhos
Sobre a incorporação de novas tecnologias, Teich foi um dos palestrantes a destacar a importância de acompanhar de perto cada inovação. “Toda tecnologia deveria ser acompanhada como se fosse um projeto de pesquisa”, sugeriu, enfatizando a importância da criação de bancos de dados nacionais capazes de fornecer subsídios para a tomada de decisão. Denizar Viana, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, também sublinhou que pesquisa em saúde é fundamental para a melhoria da assistência em oncologia no país: “O Brasil precisa investir recursos para descobrir o que funciona no cenário brasileiro”, disse. “Nós baseamos nossas decisões em ensaios clínicos, que são situações muito controladas, mas podem não se aplicar à realidade”.
Apontada por Fábio Franke como possível solução para oferecer tratamentos inovadores, capacitar equipes de saúde e ajudar a encontrar respostas locais para os desafios da oncologia no Brasil, a pesquisa clínica também foi tema de debate. “É uma maneira simples de enfrentar o câncer de forma imediata”, afirmou Franke. Porém, o palestrante destacou que não é fácil atrair ensaios clínicos para o país, em especial por causa das burocracias que dificultam a aprovação e execução dos projetos e tornam o processo muito mais demorado do que em outros países. Embora sugira que a legislação possa sofrer alterações para facilitar e atrair pesquisas clínicas para o Brasil, o especialista afirma que não é uma ação isolada. “Precisamos criar e capacitar centros para receber pesquisas e discutir esse tema no Brasil inteiro”, disse.
Anfitrião e coordenador do evento, Paulo Hoff, um dos diretores do IDOR e presidente da Oncologia D’Or, falou sobre as dificuldades que a atual regulamentação da pesquisa clínica impõe aos pesquisadores que trabalham de forma independente das grandes empresas farmacêuticas. “Quem fez a regulamentação considerou que toda a pesquisa clínica seria patrocinada pela indústria, desconsiderando os projetos que acontecem por iniciativa do investigador e por iniciativa de instituições públicas, por exemplo”, criticou. “As exigências são tão descabidas em relação ao que se tem outros países, que outras áreas, como a radioterapia, que não têm um patrocinador externo, têm muita dificuldade de fazer pesquisa”.
Na avaliação de Miguel Netto, do Instituto Latino-Americano de Gestão em Saúde, o setor de saúde está passando por uma fase de transição em que se valoriza cada vez mais a qualidade do serviço oferecido. “Cada vez mais informadas, as pessoas vão ser capazes de encontrar o serviço que mais entrega valor a elas. Não apenas em São Paulo, não apenas no Brasil, mas no mundo. O ecossistema conecta o serviço diretamente ao paciente”, apostou.
Essa nova lógica, segundo ele, requer transparência por parte dos prestadores de serviços e exige que se esteja sempre buscando a incorporação eficaz de novas tecnologias, incluindo internet das coisas, inteligência artificial, blockchain e computação quântica, entre outras. “Nós, médicos, precisamos nos debruçar sobre isso, porque essas tecnologias vão modificar totalmente a maneira como trabalhamos”, constatou, ressaltando a importância de os profissionais de saúde se envolverem no desenvolvimento de novas tecnologias.
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